domingo, 28 de agosto de 2011


História de Macuco

LIBERDADE. Em Macuco, esta palavra tem um sinônimo incomum na maioria dos dicionários: EMANCIPAÇÃO. Afinal, a emancipação político-administrativa de macuco foi um verdadeiro grito de liberdade do seu povo, que ficou preso na garganta por muito tempo, mas que soou forte quando foi libertado, transformando-se num brado de independência.
Há treze anos, no dia 28 de dezembro de 1995, foi sancionada pelo então governador Marcelo Alencar, a lei que criou o município de Macuco. Um documento que tem lugar cativo, até os dias de hoje, nos corações e nas mentes dos macuquenses.
Mas, não podemos festejar os treze anos de emancipação sem voltar no tempo para lembrar das lutas e dos personagens que marcaram essa história, pois apesar do final feliz, ela teve capítulos tristes, turbulentos e até desanimadores. Felizmente, como qualquer história de final feliz, a nossa teve um herói responsável por libertar Macuco para o seu vôo independente rumo ao desenvolvimento. O nome dele? JOSÉ CARLOS BOARETTO.
Em outubro de 1989, a pedido de José Carlos, o saudoso deputado Cláudio Moacir, amigo dos Boaretto, incluiu na Constituição do Estado do rio de Janeiro a possibilidade de macuco se emancipar, após realização de plebiscito, junto com outros sete distritos. Nosso herói vencia a primeira batalha, com o plebiscito marcado para 1º de abril de 1990.   
A campanha pelo SIM já estava nas ruas, o povo eufórico, as urnas chegaram a Macuco, mas, uma ação judicial do prefeito de Cabo Frio, que queria impedir a emancipação de Armação dos Búzios, fez com que o Supremo Tribunal Federal anulasse os plebiscitos e considerasse inconstitucional o artigo incluído na Constituição Estadual.
Foi um “balde de água fria” a apenas alguns dias do referendo popular. Parecia se estar vivendo uma ilusão de 1º de abril. Felizmente, um herói nunca desiste, mesmo quando a missão parece impossível. Apesar do desânimo de muitos em relação à emancipação, ele afirmava: “Quem viver verá!”
Ainda na década de 90, José Carlos deu entrada num novo processo na Alerj, dessa feita encabeçando um abaixo-assinado no qual a população de Macuco mostrava a sua vontade de transformar o distrito em município, assinando-o em massa. Contando com o apoio do amigo Carlos Castilho, chegou ao então deputado estadual, Blandino do Amaral, de quem Castilho era assessor. O parlamentar de São Fidélis desarquivou o processo e de emancipação e o nosso herói voltou a vencer uma importante batalha.
Na Comissão de Assuntos Municipais da Assembléia, o processo caiu nas mãos do deputado Henry Charles, que a presidia. Por manter fortes laços de amizade com Altineu Coutinho, macuquense de coração e alma, Charles tornou-se mais um guerreiro aliado. Outro que não poupou “armas” em favor de Macuco foi o saudoso Moncleber Gomes, que, junto ao então secretário estadual Fernando Lopes, conseguiu agilizar um documento atestando que Macuco tinha população superior a Rio das Flores, último distrito a ser emancipado até aquele momento. O documento foi emitido pelo CIDE (Centro de Informações e Pesquisas do Estado).
Na esfera federal, o deputado Junot Abi-Hâmia articulava junto a lideranças para ganhar novos aliados. Assim como José Carlos, Junot sempre foi como uma árvore que nasceu em nossa terra e cujas raízes só aceitam o solo de Macuco. Outro que articulou em Brasília foi José Carlos Countinho, também ligado por fortes raízes ao município.
Antes de vencer a batalha na Alerj, era preciso passar por um combate na Câmara Municipal de Cordeiro, onde, inicialmente, a maioria dos vereadores, preocupada com a diminuição do território cordeirense, era desfavorável à emancipação. Macuco contava com apenas quatro representantes lá: Rogério Bianchini, Ademir Jói, Guilherme Carvalho e Raul Lengruber. Era necessário ainda derrubar uma lei, elaborada pelos políticos cordeirenses, na qual Cordeiro simplesmente invadia a zona urbana de Macuco e ainda levava as três fábricas de cimento.
Foi aí que o nosso herói mostrou mais uma de suas habilidades: a capacidade de tocar o coração das pessoas, mesmo diante de adversidades. Usou a tribuna e fez um discurso histórico, no qual mostrou o sentimento que unia Cordeiro e Macuco, como pai e filho, e afirmou que o filho havia chegado a uma fase da vida na qual precisava caminhar com as próprias pernas.
Depois do pronunciamento, representantes de todos os poderes envolvidos sentaram à mesa e discutiram democraticamente a questão. As famílias Boaretto e Vaca Brava, adversárias históricas na política, resolveram, naquele momento, deixar as diferenças de lado e apoiar uma vontade popular. O então prefeito Toninho Tavares e o seu irmão, na época deputado estadual Joaquim Tavares, se uniram à causa, assim como todos os vereadores do Legislativo cordeirense, que aprovaram, por unanimidade, o gigantesco passo rumo à emancipação. Presente a reunião, o deputado Henry Charles levou a decisão a Assembléia Legislativa.
Nosso herói via a história definitiva cada vez mais próxima e, no dia 8 de junho de 1995, apresentou à Comissão de Assuntos Municipais da Alerj o memorial descritivo do futuro município, que, como ele mesmo gostava de definir, era a certidão de nascimento de Macuco. Após estudos detalhados, a comissão enviou o processo de pedido de emancipação ao plenário, onde ele foi aprovado por unanimidade.
Macuco foi o único distrito a conseguir os votos dos 70 deputados estaduais, mas essa vitória foi fruto de uma estratégia, ou melhor, de uma demonstração de amor do povo por sua cidade. Cerca de 20 ônibus saíram do município rumo ao Rio de Janeiro. Na Alerj mais de mil macuquenses com faixas, cartazes e muita fé clamavam pelo ato de liberdade. Foi um dia inesquecível, especialmente porque o presidente daquela casa à época, deputado Sérgio Cabral Filho, demonstrando ter grande espírito público, autorizou a entrada, nas galerias, da Sociedade Musical São João Batista, que havia levado sua música para ajudar a sensibilizar os deputados.
Depois de aprovada, a autorização foi encaminhada ao TRE, que marcou o plebiscito para 22 de outubro de 95. Apesar do desgaste das batalhas anteriores, José Carlos teve energia suficiente para comandar a campanha pelo SIM. Junto a companheiros de luta, realizou comícios e visitações para explicar o processo ao povo. Num espaço cedido por Rodir Faria, em sua gráfica, foram confeccionadas artesanalmente as faixas. O comitê foi instalado em local emprestado pelo Sr. Antonico Bianchini. Adesivos foram doados e veículos foram emprestados para realizar o transporte dos eleitores.
Era chegada a hora. Mais uma vez o herói macuquense conseguia colocar sua terra em lugar de destaque, já que a consulta popular foi a primeira a utilizar a urna eletrônica em todo o país. Apesar do voto não ter sido obrigatório, o índice de comparecimento foi altíssimo e mais de 99% da população disse SIM à emancipação. E é bom que fique claro: quem deu o grito de liberdade foi o povo, pois ele, somente ele, tinha poder para emancipar Macuco.
                Após o plebiscito, o processo voltou à Alerj e os deputados aprovaram a lei de emancipação. Em 28 de dezembro de 1995, no Palácio do Ingá, em Niterói, o governador Marcello Alencar sancionou a lei, oficializando a tão esperada certidão de nascimento de Macuco, da qual fazia parte o pólo cimenteiro. Muitas lágrimas de felicidade foram derramadas, inclusive, no semblante sereno de nosso herói, pois, como diz a canção: “um homem também chora/ também deseja colo e palavras amenas”.
                A batalha principal havia sido vencida, mas outras viriam pela frente. Apesar da decisão dos poderes Legislativo e Executivo, Cantagalo conseguiu manter o ICMS das fábricas de cimento por meio de liminar. Começava ali uma nova luta, a luta pela integridade do território macuquense. Chegaram achar que o herói iria desistir, mas, como das outras vezes, ele entrou de corpo e alma no duelo.
                Sua força só foi realmente abalada no ano de 1996, quando ele disputou as eleições para se tornar o primeiro prefeito do município que nasceu em seus braços. Infelizmente, o destino fez os ventos se conduzirem para outros lados e o PAI da EMANCIPAÇÂO foi derrotado por uma pequena quantidade de votos. Seu desejo de implantar um governo de união e de harmonia entre famílias, poderes, credos e raças parecia ter ido definitivamente de água abaixo.
                A missa ainda não estava completa, o sonho ainda não havia acabado, e Deus, precisando reforçar o seu exército de homens valorosos, levou José Carlos Boaretto no dia 18 de agosto de 1999, aos 60 anos de idade. Nosso herói não teve tempo sequer para conhecer os quatro netos, “frutos” semeados pelos filhos Gustavo, Glaucio, Graziane e Glauber, todos doutores, graças à educação que lhes foi oferecida pelo pai e pela mãe, Amélia Virgínia. A família para ele era um porto seguro, estabelecido pelo seus pais, Carlos Boaretto e Umbelina Rocha Boaretto.
                Mas, Deus e a natureza não erram. Os mesmos ventos levados pelo destino se encarregaram de trazer o sonho do nosso herói de volta dez anos depois. Hoje, lá de cima, ele vê Macuco comemorar uma década de emancipação sob a administração de dois filhos da terra: Rogério Binachini e Félix Lengruber. Seu ideal de união se concretiza e o povo já sente o gosto do progresso, do desenvolvimento, da melhoria da qualidade de vida e de um futuro melhor.
                Podemos afirmar que há um sentimento no povo de que a emancipação só foi consolidada quando os verdadeiros filhos de Macuco “tomaram as rédeas” do município e decretaram inicio de um novo tempo, um tempo que outrora teria sido iniciado com toda a certeza, caso José Carlos Boaretto tivesse sido eleito prefeito.
                Valeram a pena as viagens cansativas ao Rio, quando ele pegava o popular ônibus Corujão da Madrugada, para estar cedo na Assembléia Legislativa entregando documentos, valeram a pena os cafezinhos na Praça XV e o bolso com poucos trocados, valeram a pena as saídas de Teresópolis, onde ele trabalhava na Cedae, para ir ao Rio e voltar antes do horário de bater o cartão de ponto, valeram a pena as noites frias e solitárias, enfim, todas as dificuldades superadas por José Carlos estão hoje refletidas num só nome: LIBERDADE!
                Pouco conhecido dos jovens de hoje, que na época eram muito novos para acompanhar sua luta, nosso herói sempre teve o apoio da juventude, inclusive do Movimento Jovem Macuco Livre, criado para apoiá-lo e na época presidido por Félix Lengruber, tendo como vice-presidente Marcelo Mansur. Dois jovens que se tornaram chefes de família e que hoje, na política, ajudam a conduzir os destinos de Macuco segundo os passos do eterno companheiro idealista.
                Perseverante, puro, sincero e batalhador, José Carlos Boaretto era um homem que não tinha limites para sonhar, mas, acima de tudo, uma pessoa que nunca pisou em ninguém para alcançar seus objetivos. Não admitia, em hipótese alguma, negociar Macuco. Só aceitava a emancipação com um mapa que incluísse as três fábricas de cimento.
                Vereador pela primeira vez em 1966, conquistou sua primeira vitória heróica quando se elegeu prefeito de Cordeiro, em 1970, tendo substituído seu irmão Gilson a apenas 72 horas da eleição, em razão de uma impugnação obscura e articulada de última hora por quem via a derrota como realidade. Com tostões, venceu milhões, o que também aconteceu em 1976, quando ele voltou a ser o chefe do Executivo cordeirense e, em 1988, ano no qual foi reconduzido à Câmara de Vereadores da Cidade Exposição. Detalhe: foi o único filho de Macuco a chegar ao cargo de prefeito de Cordeiro.
                Em seus mandatos, viabilizou inúmeras obras de infra-estrutura, de calçamento de ruas, comprou máquinas, enfim, apresentou a modernidade ao interior, apesar de dispor de poucos recursos e de um número reduzido de secretários. Mas, com toda a certeza, sua grande bandeira foi a educação. Construiu escolas na Volta do Umbigo, na Barreira, outras na zona rural e trouxe para Macuco mais um sonho transformado em realidade: o segundo grau. Implantou-o no colégio onde lecionava, o grupo escolar de Macuco, que hoje, merecidamente, leva o seu nome.
                Assim como o Macuco, ave desconfiada e que se finge de morta quando se sente ameaçada ou perseguida, José Carlos gostava de trabalhar quieto, calado e só revelava uma conquista ou trunfo quando os considerava certos. Outra característica que os aproxima é o gosto pela terra. O Macuco tem por hábito tomar banhos de terra e ficar com a plumagem da cor do solo. José Carlos trazia consigo o cheiro da terra natal. O cheiro de Macuco.
                Para o povo, deixou uma grande herança: a liberdade tão sonhada. Para os políticos, ficou o legado de uma vida de lutas e de defesa pela integridade da terra. Ficou inspiração para os filhos de Macuco batalharem para que seus limites territoriais sejam finalmente respeitados. Hoje, todos são movidos pelo ideal de um herói e pelo espírito de um homem. A confiança é muito grande, principalmente quando, em cada mente, em cada coração, vem a lembrança de que há anos atrás, nos momentos difíceis, apenas um homem tinha absoluta certeza da emancipação: José Carlos Boaretto.

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